SHADOWSIDE





Fazer um texto introdutório para uma entrevista da Shadowside é algo praticamente sem necessidade. A banda, surgida em 2001, na cidade de Santos, e tendo a sua frente à bela vocalista Dani Nolden, vem ganhando bastante respaldo na mídia especializada, o que se tornou mais forte com o lançamento de “Inner Monster Out” (2011). Após muitas mudanças na formação, a Shadowside se estabilizou com Fábio Buitvidas (bateria), Raphael Mattos (guitarra) e Fabio Carito (baixo), além de Dani. Na entrevista a seguir a vocalista fala sobre mudanças na formação; sobre a sua imagem sempre ligada a Shadowside, vindouro álbum, além de um assunto delicado, o que rendeu uma resposta bem grande. Confiram!

Recife Metal Law – A Shadowside surgiu em 2001 e já teve diversas formações. Apenas a vocalista Dani Nolden segue na banda desde o seu início e, por muitas vezes, aparece só em algumas notícias da banda. Dani é a grande responsável por tudo que envolve a Shadowside?
Dani Nolden –
Eu sou a grande responsável, ao lado dos meus companheiros de banda, que também são grandes responsáveis por tudo que envolve a Shadowside. Porém, com grande frequência, quem acaba aparecendo mais, em qualquer banda, é quem está cantando. Isso fica ainda mais amplificado quando se trata de uma mulher. No início da banda, isso gerou um pouco de ciúme dos outros membros, pois nenhum de nós estava preparado para isso. Porém, desde 2007, que foi quando estabilizamos a formação, nunca mais tivemos esse tipo de problema, pois fechamos um grupo que estava completamente consciente de que é comum que a vocalista receba mais destaque, e que não importa quem se destaque, pois qualquer pessoa na banda se destacando leva o nome da banda junto. Eu realmente faço muita coisa na banda, letras, músicas, gerenciamento, mas definitivamente não sozinha. O Raphael, guitarrista e o Fabio, baterista, também fazem parte de todo o trabalho de composição das músicas e da organização de todo o trabalho.

Recife Metal Law – A banda já tem três álbuns lançados, sendo o último “Inner Monster Out” (2011). Cada disco foi lançado por um selo diferente, inclusive fora do país. O que levou a banda a lançar seus trabalhos por selos diversos?
Dani –
Sempre tivemos contratos de um álbum, e no final do trabalho estávamos livres para buscar o melhor para a banda. Sempre assinamos com quem tem a melhor proposta. As gravadoras buscam bandas que podem fazer dinheiro para elas, nós buscamos gravadoras que possam nos ajudar a avançar na carreira. É uma troca e sempre buscamos a troca que consideramos mais justa.

Recife Metal Law – A musicalidade de “Inner Monster Out” é bem agressiva, do início ao fim, mesmo que as melodias apuradas estejam presentes no decorrer do disco. Alternar boas melodias com agressividade e peso foi o que as letras desse álbum pediam ou isso é uma tônica na musicalidade da banda?
Dani –
Isso faz parte da nossa musicalidade. Eu gosto de deixar as letras para o final, pois prefiro deixar a música fluir para onde ela quiser ir. Não gosto muito de ter que fazer uma música para se encaixar em uma letra, acho mais interessante escrever a história com a inspiração que o clima da música me dá. Gostamos bastante de unir os dois extremos: a melodia e a musicalidade com algo agressivo, com energia e peso. As letras acabaram acompanhando isso, com temas que tratavam de sutilezas do comportamento e da mente humana, assim como temas mais fortes como a reação das pessoas diante da morte.

Recife Metal Law – Os teus vocais casam perfeitamente com a musicalidade da banda e com que cada letra das músicas contidas nesse álbum pede. Ao ouvir as músicas identificamos que se trata de uma mulher cantando, mas os vocais são apresentados de forma mais fortes, até mesmo mais agressivos em alguns pontos. Como foram trabalhadas as linhas vocais para esse álbum?
Dani –
O início da gravação desse álbum foi interessante para mim, porque eu cheguei ao estúdio dizendo que estava em crise de identidade vocal. (risos) Eu já havia gravado um álbum bastante ‘gritado’, que foi o “Theatre of Shadows”. Minha intenção naquele álbum era mostrar algo incomum para uma mulher e marcar essa característica do vocal agressivo. No segundo álbum, o “Dare to Dream”, cantei mais que gritei, pois estava buscando outro lado da minha voz. Cheguei ao “Inner Monster Out” querendo saber de mim mesma o que, afinal, era minha personalidade como cantora. Acredito que encontrei esse equilíbrio no “Inner Monster Out”, indo um pouco mais longe nesses momentos agressivos, porém buscando mais melodias. Eu gosto de me desafiar criando e cantando coisas que eu nunca havia feito antes, porém sempre colocando a música em primeiro lugar. A voz precisa complementar a música e fazer o que ela pede.

Recife Metal Law – “Inner Monster Out” ganhou com uma produção de altíssimo nível e, para isso, o álbum foi gravado fora do país, mais precisamente no Fredman Studios, em Gothenburg, na Suécia. O resultado final obtido com esse álbum, em se falando de produção sonora, só foi alcançado por ter sido gravado fora do Brasil?
Dani –
Não, porém sem dúvida só foi alcançado por termos trabalhado com um cara como o Fredrik Nordström, dono do Fredman Studios. Não se trata tanto do estúdio e, sim, do som que o produtor consegue tirar, pois o estúdio onde gravamos os dois primeiros álbuns da banda é até melhor em termos de equipamento do que o Fredman Studios, porém o som deles nem se compara com o som que está no “Inner Monster Out”. O Fredrik é um produtor que trabalha há mais de 20 anos dentro do Heavy Metal. Não tenho dúvidas de que temos produtores extremamente competentes no Brasil, mas, na Suécia, Heavy Metal é música pop. Acredito que poucos produtores no mundo teriam sido capazes de tirar o som que estávamos buscando, especialmente de guitarra e bateria. É bem provável que ele produza o próximo álbum.

Recife Metal Law – Houve alguma alteração em arranjos de músicas em estúdio ou a banda só entrou, pegou seus instrumentos e gravou?
Dani –
Nós mudamos algumas coisas na hora, mas a maior parte das músicas e dos arranjos estava prontas. O Fredrik trabalhava conosco das 09 às 17h e então passávamos o restante do dia experimentando arranjos e testando pequenas mudanças. Foi uma gravação extremamente rápida porque, literalmente, morávamos no estúdio. Então mesmo esses experimentos saíam rapidamente, pois estávamos focados apenas no álbum e fizemos uma pré-produção cuidadosa antes de entrar em estúdio.

Recife Metal Law – A Shadowside vem ganhando bastante respaldo, não só no Brasil, tendo em vista que a banda já fez algumas turnês fora do país. “Inner Monster Out” seria o responsável por isso ou isso também são méritos dos álbuns anteriores?
Dani –
Eu acredito que cada álbum nos levou um degrau acima; a cada lançamento crescíamos um pouquinho mais, mas o “Inner Monster Out” nos levou muito mais longe, sem sombra de dúvida. As músicas são mais maduras, a produção é melhor, a divulgação foi mais forte, a aceitação foi muito maior. Alcançamos a 26ª posição entre os álbuns mais vendidos no Japão pela revista BURRN!, em uma lista que tinha bandas como Evanescence, Nightwish, Judas Priest. Atingimos a 9ª colocação entre as bandas mais tocadas de Rock e Metal nas rádios dos Estados Unidos. Tudo isso gerou uma turnê bastante longa, com mais de 60 shows, o que também ajudou a impulsionar a banda, então tudo acabou virando uma bola de neve que nos fez crescer bastante. Não quero esquecer os trabalhos mais antigos da banda, porém é certo que o “Inner Monster Out” nos abriu muitas portas.

Recife Metal Law – Para o mais recente álbum foram lançados dois clipes, sendo um para “Angel With Horns” e o mais recente para “Habitchual” (filmado no Centro Histórico de Santos). Qual a razão para escolher essas músicas para se transformarem em clipes?
Dani –
Eram duas das nossas músicas favoritas no álbum. Inicialmente, “Habitchual” seria o primeiro single e clipe, mas durante a gravação do álbum todo mundo ficou com “Angel With Horns” na cabeça. O técnico do estúdio não parava de cantar a música, de forma distraída, ele começava a cantarolar e então percebia o que estava fazendo. (risos) Então percebemos que não era só a banda que gostava da música. Gostamos de várias outras, é claro, mas achamos que essas duas eram as mais fortes para apresentar o álbum.

Recife Metal Law – Por que a banda escolheu o Centro Histórico de Santos como locação para o novo clipe? Uma forma de homenagear a cidade natal da Shadowside?
Dani –
Sim. Santos tem alguns locais bastante interessantes, mas nunca havíamos feito uma gravação de clipe na cidade. Como um dos diretores do clipe sugeriu o Centro Histórico, achamos a ideia dele excelente. O clipe foi filmado em frente ao prédio dos Correios, que fica ao lado da Prefeitura de Santos, e dentro da Casa da Frontaria Azulejada.

Recife Metal Law – Levando-se em consideração o tempo de lançamento do último álbum, certamente a banda já vem preparando músicas para um novo disco. A linha a ser seguida, sonora e liricamente, será a mesma de “Inner Monster Out”?
Dani –
Será a evolução do “Inner Monster Out”. Temos algumas músicas prontas e elas estão tão pesadas quanto às músicas do “Inner Monster Out”, talvez até mais, porém as melodias e estruturas estão mais maduras. Será um álbum mais maduro, mais interessante e mais intenso musicalmente, e um pouco mais obscuro liricamente. Os temas estão mais fortes, tanto pelo meu estado de espírito atual quanto pela música que realmente pede uma temática mais pesada. Estou muito ansiosa pela finalização desse trabalho e muito animada. Para mim, o “Inner Monster Out” já está parecendo algo pequeno perto desse novo álbum, porque o novo trabalho realmente está soando como uma evolução dele. Continua direto e agressivo, porém mais elaborado musicalmente.

Recife Metal Law – No final de 2012 a banda se apresentaria pela primeira vez em Pernambuco, mas teve o show cancelado pela própria banda. Ambas as partes, produtora e banda, soltaram notas explicando os motivos do cancelamento. Mas, passado mais de dois anos, o que a Shadowside teria a dizer àqueles que esperavam ver a banda ao vivo? Não foi uma precipitação deixar o público esperando e decepcionado por não poder ver a Shadowside no palco?
Dani –
Não foi uma precipitação, tanto que no dia seguinte tocamos em Caruaru, sem qualquer tipo de problema, assim como todo o restante da turnê do Nordeste. O que as pessoas precisam entender é que nenhuma banda sai de casa na semana do Natal, largando a família em casa, fazendo viagens cansativas, para chegar à cidade e não tocar. Não realizar o show é a coisa mais frustrante que pode acontecer. Nós queremos tocar. Temos uma banda. Qual é o propósito de ter uma banda e não tocar? Foram mais de 60 shows na turnê do “Inner Monster Out” e apenas dois foram cancelados. O show no Metal Open Air, onde mais de 20 bandas também tiveram que cancelar, e o show no Recife. Já cantei com infecção na garganta, nosso baterista tocou com o dedo quebrado. Nós simplesmente não cancelamos evento a menos que seja impossível apresentar nosso trabalho de maneira adequada. Como você disse, seria nossa primeira vez no Recife. Não vamos chegar à cidade fazendo uma apresentação abaixo do que temos a oferecer e abaixo do que todas as outras cidades vinham recebendo. Estamos falando de uma das cidades mais importantes do Brasil. Fizemos uma produção cuidadosa no “Inner Monster Out” e temos responsabilidade de apresentar essa qualidade sonora no Recife. O público ficou frustrado, nós ficamos frustrados, mas em uma situação assim, o cancelamento foi a melhor saída e quando voltarmos ao Recife, o público vai entender que fizemos isso, pois sempre subimos no palco para entregar o que os fãs merecem, pois pagaram o ingresso, se deslocaram das suas casas até o local, eles merecem 100% do que uma banda tem a oferecer. Além de tudo isso, o trabalho de uma banda deve ser respeitado. Cada banda sabe as condições que necessita para trabalhar e tudo isso é combinado anteriormente, com contrato, com o organizador do evento. Se tocarmos de qualquer jeito, com o contratante desrespeitando todas as condições que ele já havia concordado no contrato, passamos a mensagem de que está tudo bem. De que o trabalho de uma banda não precisa ser levado a sério. Que todo mundo pode tocar de qualquer jeito. Não funciona assim. O público merece respeito pelo ingresso que pagou. Muitas vezes eles não se importam e querem ver a banda tocando mesmo assim, pois já estão lá, mas ainda assim eles merecem o máximo que uma banda tem a oferecer. E uma banda merece respeito por estar realizando seu trabalho. Organizar um evento exige responsabilidade, e cancelar um show quando um contratante não age de forma responsável é a melhor coisa que se faz pela cena, pois começamos a filtrar e manter apenas quem está realmente disposto a fazer algo de qualidade. O organizador alegava que não tinha o equipamento disponível na cidade, porém isso, além de ser mentira, era algo que ele tinha que ter visto antes de contratar a banda. Antes de um contrato ser assinado o organizador recebe o rider técnico para saber se tem condições de contratar a banda. E o que pedimos tem disponível em qualquer lugar do Brasil. Tinha em Paulo Afonso, cidade com menos de 120 mil habitantes no sertão da Bahia, que nos recebeu de forma maravilhosa com um equipamento do mesmo nível dos shows europeus. Tinha em Caruaru, que também nos acolheu muito bem. É claro que tinha no Recife, mas o contratante decidiu descumprir o contrato e alegar que não tinha condições de cumprir nossas “exigências”. Nós pedíamos uma mesa digital, para que não houvesse a necessidade de equalizadores, gates e periféricos que servem para que não haja microfonia nem ruídos, além do fato de que a mesa digital salva toda a passagem de som. Assim todas as bandas do evento poderiam passar o som tranquilamente. Uma semana antes do show a produção apareceu com a hipótese que não conseguiria uma mesa digital para o evento, sendo que isso estava combinado com dois meses de antecedência, tentamos ser flexíveis e foi combinado então que eles colocariam uma mesa analógica exclusiva para a banda e com os mínimos periféricos, já que o analógico não salva essa cena e conversado que sem os periféricos, que são os compressores, equalizadores, gates, etc., não seria possível fazer o show. Porém quando chegamos lá havia apenas um sistema e estava disponível para todas as bandas, sem os periféricos. Cada um sabe do que precisa para fazer o seu som, levamos anos para construir a carreira, temos responsabilidade com o som que apresentamos. Se subirmos no palco e o som está ruim, ninguém vai levar em consideração que o equipamento não era o que precisávamos. Vão apenas falar que o som estava ruim. Quando você está trilhando um caminho, às vezes você se sujeita a tocar em condições ruins, e tivemos que fazer isso muitas vezes, mas isso foi antes de termos responsabilidade e um pequeno nome a zelar. E quando não tínhamos como exigir condições, não criticávamos quem exigia por nós, como o W.A.S.P., que cancelou um show na França porque eles consideraram que o equipamento disponível para nós não era o ideal. No lugar de ficar contra eles e dizer que era frescura, ficamos agradecidos por uma banda que tinha como exigir algo melhor lutar pelas nossas condições. Por tudo isso, definitivamente não foi uma precipitação. Não foi uma frescura. Foi respeito com o público que pagou, respeito com a nossa própria carreira e uma luta, que é para todas as bandas, para estruturar o Heavy Metal no Brasil. Podemos nos prejudicar no processo, mas nunca vamos deixar de lutar pelas condições corretas para se fazer o tipo de som que amamos por aqui. E quando voltarmos ao Recife, voltaremos apresentando nosso máximo, pois o público não merece menos que isso.

Site: www.shadowside.ws

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Costábile Salzano Jr., Stéphane Harnisck