SHADOWSIDE





A banda Shadowside, liderada pela vocalista Dani Nolden, vem ganhando bastante respaldo no meio Heavy Metal nacional, fruto de trabalho árduo desde a sua formação, em 2001. Mesmo com as várias mudanças na formação, Dani se manteve convicta de seu papel no cenário, e carrega bravamente a banda até hoje. E não só no Brasil a banda vem ganhando grande destaque, já que a banda já fez diversas turnês fora do país, inclusive tendo o seu mais recente álbum, “Inner Monster Out”, sido gravado fora de nosso país. E esse trabalho vem ganhando grande repercussão, como a própria Dani Nolden nos conta na entrevista a seguir...

Recife Metal Law – O Shadowside, hoje, é uma banda respeitada em todo o país. Aqui no nordeste poucas pessoas conhecem a fundo o trabalho da banda. Conte-nos um pouco desse trabalho. Como surgiu a banda e qual a sua proposta?
Dani Nolden –
Nossa proposta é apenas fazer Metal, bem direto, pesado, com melodias marcantes e, de preferência, em um volume bem alto! (risos) Estamos na estrada há pouco mais de dez anos, temos três álbuns lançados, o mais recente sendo o “Inner Monster Out”, e desde 2007 temos ficado bastante ocupados com turnês constantes, especialmente no exterior. Passamos por 20 países; recentemente entramos em uma lista dos discos mais vendidos no Japão feita pela revista BURRN!, onde ficamos em 26º lugar, a frente de bandas como Nightwish, Lamb of God, Evanescence, e ficamos seis semanas entre as 15 bandas de Hard Rock e Metal mais tocadas nas rádios dos Estados Unidos. Tudo isso era algo com que sonhávamos quando estávamos começando, mas não tínhamos ideia de que seria possível para aquele bando de adolescentes que só queria gravar um som. Começamos como uma banda de estúdio, porque nem imaginávamos que faríamos muitos shows, então a ideia principal era gravar um EP Demo pra mostrar nossa arte ao mundo. Enviamos esse EP para algumas revistas, alguns organizadores de shows e, de repente, tanta gente estava falando da Shadowside que a coisa se espalhou mais rapidamente do que todos nós esperávamos. Hoje considero esse EP horrível (risos), mas as pessoas não viram apenas o que estava gravado ali e sim o potencial que tínhamos para o futuro. Muita gente que nos acompanha desde aquela época diz que não é surpresa termos chegado onde estamos, mas eu, sinceramente, não esperava tudo isso. Eu queria, mas não esperava!

Recife Metal Law – Muitas bandas estão procurando gravar ou produzir seus álbuns fora do país ou contratam produtores de renome. “Dare to Dream” foi mixado e produzido por Dave Schiffman (System Of A Down, Audioslave, Avenged Sevenfold), e a masterização ficou a cargo do engenheiro de som Howie Weinberg (Aerosmith, Iron Maiden, Metallica, Pantera). Como vocês chegaram até eles?
Dani –
Eu enviei um e-mail para Dave e alguns outros produtores perguntando se eles tinham interesse em trabalhar conosco. Sempre temos uma lista de produtores com quem gostaríamos de trabalhar, afinal nem sempre estão todos disponíveis na época em que queremos e podemos gravar. Como Dave era o nosso favorito na época e ele aceitou, marcamos a gravação e ele mesmo nos indicou Howie. Com Fredrik Nordström, nosso produtor atual, a coisa foi parecida. Eu mostrei nossas gravações anteriores, expliquei nossas ideias e a direção que queríamos seguir, então ele disse que havia gostado do nosso trabalho e aceitou produzir o “Inner Monster Out”. Acho importante sempre trabalhar com alguém que você admira e confia; o produtor é como o treinador do seu time. Ele é o cara responsável por tirar da banda o melhor que ela pode oferecer.

Recife Metal Law – Confesso que “Inner Monster Out” me surpreendeu bastante, desde a parte gráfica (porque também desenvolvo capas de CDs para bandas de Metal), até toda a sonoridade do álbum. Como foi o processo de composição e produção do álbum, que dessa vez foi gravado fora do país?
Dani –
Pela primeira vez nós decidimos que todo o álbum seria da banda inteira e não apenas de um ou dois membros. Desistimos da democracia. (risos) Antigamente, se dois ou três membros da banda estivessem satisfeitos com o resultado de uma música, nós a consideraríamos terminada, porém dessa vez nós decidimos agitar um pouco as coisas e não parar de trabalhar em uma música enquanto todos nós não estivéssemos não apenas satisfeitos, mas muito felizes com ela. Nosso guitarrista Raphael e eu escrevemos praticamente metade das ideias iniciais cada, mas nenhuma das nossas ideias originais sequer se parece com o que você escuta no “Inner Monster Out”. Todos nós juntos fizemos riffs, melodias, cortamos partes, adicionamos partes... Todos tinham liberdade completa para modificar e criar o que quisessem. Esse processo foi muito inspirador, já que várias vezes a ideia de alguém fazia os outros membros criarem outras coisas e o trabalho não ficou cansativo para qualquer um de nós. Ninguém estava com toda a responsabilidade nas costas, estávamos apenas nos divertindo fazendo música juntos. Isso poderia ter sido um desafio enorme, pois nós nunca conseguimos encontrar uma banda favorita em comum entre nós. (risos) Mas, para ser sincera, não foi tão complicado. Abraçar as diferenças musicais tornou tudo muito mais simples para nós; encontramos um som que todos nós gostamos muito. Procuramos fazer algo pesado, nervoso e ao mesmo tempo melódico, que tivesse o melhor dos dois mundos: a energia e agressividade do Metal extremo com a musicalidade, as melodias bonitas do Power Metal e do Heavy Metal tradicional. Queríamos música pra bater cabeça e cantar junto ao mesmo tempo, e acredito que conseguimos. Chegamos a Suécia com o álbum praticamente todo escrito e fizemos os detalhes que faltavam no estúdio mesmo, afinal literalmente moramos no estúdio por aproximadamente três semanas. O estúdio do Fredrik tem toda a estrutura de uma casa, com cozinha, quartos, chuveiro e videogame, então não tínhamos motivo pra sair de lá. (risos) Ficávamos trabalhando no álbum dia e noite, sete dias por semana e nem sentimos o tempo passar. O trabalho fluiu tão bem que nos últimos dias, começamos a enrolar e demorar pra gravar de propósito apenas para ter o que fazer, afinal o estúdio já estava pago por todo aquele período e mudar o voo de volta para o Brasil ficaria caro demais. (risos)

Recife Metal Law – Como está a repercussão de “Inner Monster Out”? Existem planos pra gravar algum DVD do Shadowside?
Dani –
Está excelente! Eu realmente não poderia esperar por mais! É praticamente unânime a opinião do público e da imprensa que o “Inner Monster Out” é nosso melhor trabalho até hoje e, sem dúvida, é o álbum que nos levou mais longe. Já é o álbum mais vendido da banda também e ainda nem começamos a turnê no exterior, o que me diz que uma banda não precisa ficar brigando com seus fãs por causa de MP3 e essas coisas. Quando um fã pode, ele sempre apoia as bandas que gosta. Temos algumas ideias para um DVD, mas ainda são apenas planos iniciais, porque queremos fazer algo realmente especial, um material que realmente valha à pena. Assim que tivermos a possibilidade, vamos fazer acontecer!

Recife Metal Law – Hoje em dia é bastante comum você vê mulheres fazendo vocais em bandas de Metal, principalmente em bandas de Gothic Metal. Em minha opinião isso, às vezes, soa muito enjoativo, todas as bandas se parecem. Você tem um timbre diferente, é agressivo e melódico. Dani, fale um pouco de sua carreira como vocalista. Como chegou a essa forma de cantar e quais suas inspirações?
Dani –
Essa época de todas as bandas com mulheres nos vocais serem praticamente iguais foi o que eu considero como a maior dificuldade da minha carreira. Eu gosto de muitas das originais, como o Nightwish, por exemplo, apesar de não ser influenciada pela banda. Mas até pouco tempo atrás todas as bandas queriam ser o Nightwish e isso foi exatamente no período em que comecei a minha carreira com o Shadowside. Era muito comum dar uma olhada em fóruns de discussão e encontrar gente falando “não gosto de Shadowside porque odeio Gothic Metal” e “não gosto de Shadowside porque odeio vocal operístico”, sendo que não fazemos nem uma coisa nem outra! Mas as pessoas viam mulher na banda e imediatamente associavam a “cópia do Nightwish”. Precisamos de muita paciência para esperar que as pessoas finalmente ficassem curiosas e fossem escutar a Shadowside para ver que nossa proposta era outra e que minha voz está mais próxima da de um tenor que de uma soprano. Acho que por minha voz ser grave e por eu ter crescido escutando Rock e Metal cantado por homens, minha forma de cantar se desenvolveu dessa forma naturalmente. Eu sou contralto, então as regiões onde os cantores que eu mais gostava como Freddie Mercury, Sebastian Bach, eram exatamente aquelas em que eu me sentia confortável cantando. Eu nunca parei pra pensar se aquilo era incomum para mulheres, porque nunca me contaram isso. (risos) Eu comecei a cantar sem preconceitos, sem ideias formadas de como uma mulher deveria ou poderia soar. Eu só tentava cantar como eles. Talvez se eu tivesse começado a desenvolver minha personalidade musical apenas em 2001, eu teria ficado marcada pelas mulheres que estavam em evidência na cena e teria tentado cantar de forma mais delicada por acreditar que era assim que mulheres cantavam... Eu, sinceramente, não sei. Talvez eu teria tentado cantar como elas e teria sido um desastre. (risos)

Recife Metal Law – Como vocês veem a cena Metal hoje em dia no Brasil?
Dani –
A cena está viva, forte e se desenvolvendo cada dia mais! Pela primeira vez está sendo possível fazermos tantos shows pelo Brasil; o público está cada dia mais envolvido com as bandas, interagindo com seus músicos favoritos; existem muitas bandas relativamente novas fazendo som de primeira, bandas antigas mantendo o Metal vivo e servindo de inspiração para quem está começando agora. Acho que nunca tivemos um momento melhor que este no Heavy Metal brasileiro.

Recife Metal Law – A Shadowside fará uma tour pelo nordeste em dezembro, a qual vai passar por várias cidades. O que vocês esperam dessa tour e como será o repertório para os shows?
Dani –
Esperamos um público insano e estamos ansiosos para conferir de perto a fama dos fãs nordestinos de serem apaixonados por Metal! Muita gente do Nordeste e também do Norte nos pede shows nas regiões há muito tempo e estamos muito felizes por finalmente termos essa oportunidade de tocar para vocês. Podem ter certeza que será um show explosivo e intenso, com as melhores músicas dos nossos álbuns anteriores e quase todas do “Inner Monster Out”.

Recife Metal Law – Bom pessoal, o Recife Metal Law agradece a Shadowside pela entrevista. Este espaço agora é de vocês. Muito obrigado e nós vemos no show do dia 21 de dezembro!
Dani –
Muito obrigada pelo espaço e pelo apoio! Espero ver toda a galera de Recife no evento do fim do mundo! Será um dia inesquecível! Até dezembro!

Site: www.shadowside.ws

Entrevista por Alcides Burn
Introdução por Valterlir Mendes
Fotos: Renan Facciolo, Flavio Hopp e Divulgação